514.8 Trabalho, conflito e cidade: Luta de projetos na periferia da Buenos Aires contemporânea

Friday, August 3, 2012: 12:00 AM
Faculty of Economics, TBA
Distributed Paper
Javier GHIBAUDI , Economia, SEN/UFF; IPPUR/UFRJ, Niterói, Brazil
Na Argentina do começo da década de 2000 ganharam visibilidade ações coletivas de setores dominados que questionavam a ordem política e econômica vigente. Destacavam-se a ocupação e gestão cooperativa de fábricas em crise –­ as recuperadas ­–  e as organizações de desempregados piqueteras que reivindicavam trabalho e responsabilizavam ao Estado pela sua condição. Buenos Aires, especialmente a sua Periferia, era não somente o contexto, mas o alvo de ações que tentavam mudar as condições de trabalho e de vida. Construindo uma identidade com o “bairro”, essas ações coletivas quebravam a distinção analítica entre lutas dentro e fora da fábrica. Se a tradição argentina de classe trabajadora continuava nessas ações,  também se transformava no próprio processo de relação com outros sujeitos.  As organizações entravam em conflito, mas também em negociação e acordo, com agentes e iniciativas de “políticas sociais focalizadas” do poder público e ações de “responsabilidade social corporativa”. Seus Projetos Políticos se relacionavam assim com os pequenos projetos, ou projects, propostos pelos dominantes que carregavam valores da gestão empresarial, próprios do que Boltanski e Chiapello denominam como novo espírito do capitalismo.

O trabalho indaga sobre a tensão entre os Projetos Políticos e os projects da gestão para compreender melhor tanto as ações dominantes  na Periferia quanto as dos dominados que tentam mudar  suas condições e construir outras territorialidades. Analisam-se as principais mudanças e permanências nos processos históricos de lutas de classes e de territorialização, observando como relações de conflito são desenvolvidas ou tentam ser absorvidas no manto das políticas dos projects e das parcerias.

A metodologia da pesquisa consistiu no estudo de duas organizações de desempregados  na Periferia de Buenos Aires entre 2004 e 2010, discutindo também a literatura sobre a ação coletiva e o território, tanto no âmbito argentino quanto no latino-americano.